Ação do Ambiente em Fachadas Pintadas

O artigo trata sobre a degradação do ambiente nas fachadas pintadas dos edifícios.

Fernando B. Tury

2/17/20253 min read

Este caso, apresenta uma junção de elementos curiosos e com ação bem silenciosa. Em análise rápida, é possível perceber que a camada de cobertura da tinta utilizada na fachada do edifício já está comprometida, apresentando aspecto desgastado, como se a tinta tivesse “escorrido”.

Avaliando apenas a foto, poderia ser levantado a hipótese de um serviço mal-feito, com escolhas de materiais errados ou talvez uma negligência de rotinas de manutenção e asseio da edificação.

Fato é que esta alteração na cor e aspecto de escorrimento demonstram não só um quadro de manutenção inadequada, mas também mostram as agressões do meio ambiente em que o edifício se encontra. O local é de grande movimentação em centro urbano. Os desafios das edificações com relação ao local onde estão inseridas são enormes. Vão desde o calor excessivo, alto volume pluviométrico, ataques químicos e ataques invisíveis como a fotodegradação que através da ação dos raios UV, provoca a deterioração da camada de cobertura da tinta.

Neste caso em específico, temos a ação em conjunto dos ataques químicos e da Fotodegradação agindo ininterruptamente, colaborando para a perda da vida útil da tinta, acelerando sua degradação.

Os gases atmosféricos como o Dióxido de enxofre (SO₂) provenientes da queima de veículos a diesel. Embora tenhamos uma redução no teor de enxofre no Diesel brasileiro (S-10), ainda temos o Diesel S-500 a venda. Veículos mais antigos, que se utilizam desde diesel mais poluente, produzem parte considerável do Dióxido de Enxofre presente em nossa atmosfera. Indústrias que utilizam fornos e caldeiras, como siderúrgicas, refinarias e fábricas de Cimento também são responsáveis pela emissão de SO2.

O Dióxido de Enxofre (SO2), quando em contato com a umidade da atmosfera, sofre oxidação, transformando-se em Trióxido de Enxofre (SO3). Entrar em contato com a água, transforma-se em Ácido Sulfúrico (H₂SO₄), um dos principais agentes da Chuva ácida. O Ácido Sulfúrico degrada a resina e os pigmentos da tinta, tornando-a quebradiça e pulverulenta. Isso causa desbotamento, esfarelamento e descascamento da pintura, promovendo o descolamento da camada do corpo da estrutura da edificação.

Os ácidos reduzem a capacidade da tinta de repelir água, tornando-a mais vulnerável à penetração de umidade, deixando a alvenaria suscetível a outras manifestações patológicas como a Eflorescência.

Já a fotodegradação, ação dos raios UVs também são um grande aliado desta deterioração dos elementos que compõem a tinta, facilitando sua perda de eficiência. Dentre as mais variadas ações da fotodegradação, podemos citar, a Fotólise.

Em setembro de 2024, o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), registrou um índice 11 de ultravioleta (IUV). A Organização Mundial da Saúde considera isso como crítico ao ser humano. É evidente que esta incidência tão alta de raios ultravioletas atingi os elementos e componentes das edificações.

A Fotólise é um dos principais mecanismos de degradação das tintas de fachada causados pela exposição prolongada à radiação ultravioleta (UV). Esse processo resulta na quebra das cadeias poliméricas das resinas e pigmentos da tinta, levando a problemas como desbotamento, pulverulência (esfarelamento) e descascamento.

Assim como a degradação química a tendencia do material é se desintegrar deixando o elemento cimentício, neste caso (Bloco estrutural), vulnerável a ação da umidade e dos gases atmosféricos. O Dióxido de Carbono (CO2), reage com o hidróxido de Calcio (Ca(OH)2), transformando se em Carbonato de Cálcio (CaCO₃). Esse processo causa uma alteração química no bloco, reduzindo seu PH e deixando-o a longo prazo, suscetível a perda de resistência estrutural.

A falta de conhecimento dos profissionais em contornar as ações químicas e outros fatores ambientais, atrelados a falta de protocolo de tratamento e reabilitação da fachada e economia com materiais de menor desempenho são os principais motivos para a constatação do estado atual da fachada da edificação.

Não se trata apenas de uma nova execução da pintura, como muitos julgariam, trata-se de um conjunto de ações, baseadas em conhecimento e escolha correta dos métodos de execução e materiais que encerrará o ciclo vicioso de repinturas sem sucesso. O custo aumentará a cada ano e o desempenho despencará cada vez mais rápido pela ausência de um protocolo de tratamento e manutenção.